A relação entre Compersão e ciúme é complexa. As pessoas podem reagir de várias maneiras quando alguém que elas amam romanticamente está feliz com outra pessoa. Sentir compersão não significa necessariamente não ser ciumento. Alguém pode progredir em direção à compersão e ainda ter episódios de ciúme.

Cultivar a Compersão normalmente envolve dois processos: (1) enfraquecer tendências ao ciúme e (2) aprender a apreciar a felicidade dos outros, mesmo quando não estamos envolvidos nela.

Para entender como lidar com o ciúme, é necessário compreender suas origens. Alguns teóricos acreditam que o ciúme surge de sentimentos de vulnerabilidade, enquanto outros argumentam que o ciúme é resultado de um senso de direito sobre a outra pessoa. Na minha opinião, ambas as características contribuem para o ciúme.

Vulnerabilidade

A vulnerabilidade relacionada ao ciúme está ligada à nossa dependência dos outros. Desde a infância, nos apegamos a outras pessoas em busca de segurança. Esses laços de apego continuam a influenciar nossos relacionamentos adultos, nos quais buscamos apoio emocional em amigos e parceiros românticos. Nosso senso de identidade também é fortemente influenciado pela comparação com outras pessoas.

Dependência é uma faca de dois gumes. Por um lado, o contato com os outros traz prazer, autoestima e desenvolvimento pessoal. Por outro lado, traz riscos. Nossa autoconfiança pode depender da presença e disponibilidade dos outros. O medo de ser abandonado pode desestabilizar nossas vidas, causando ansiedade e insegurança, especialmente em relacionamentos românticos, que podem parecer instáveis e frágeis.

Possessividade e direito

Em relacionamentos pessoais, buscamos um equilíbrio entre intimidade emocional e independência pessoal. A intimidade nos permite desfrutar os benefícios do relacionamento e a conexão com os outros, enquanto a independência nos permite passar por períodos de isolamento. No entanto, esse equilíbrio é difícil de alcançar. Nossos padrões de apego e eventos traumáticos podem influenciar nossa experiência de intimidade. Esses fatores podem alimentar a possessividade, e nos tornar dependentes excessivamente da proximidade e do apoio dos outros. Mesmo pessoas seguras podem experimentar momentos de possessividade em períodos de estresse.

As atitudes que justificam comportamentos possessivos estão ligadas ao sentimento de direito. Sentimos que temos o direito de ser possessivos e acreditamos que o que recebemos dos outros é exclusivo. Essa ideia de direito é apoiada por normas e ideais socialmente aceitos sobre romance, relacionamentos e bem-estar emocional. No entanto, essas normas variam de acordo com o tempo e o contexto social, e podem ser ampliadas por questões de gênero, raça e deficiência.

Resumindo, a vulnerabilidade leva à possessividade, que é justificada pelo sentimento de direito. Juntas, essas características sustentam o ciúme.

Como lidar com o ciúme

O ciúme pode ser um obstáculo para a compersão. Para superá-lo, é importante questionar os privilégios e crenças que sustentam a ideia de direitos exclusivos. Além disso, é essencial tomar medidas para enfrentar e gerenciar a vulnerabilidade emocional. Refletir sobre conceitos românticos como compromisso e exclusividade, e questionar se eles apoiam interpretações sociais dominantes, é fundamental para compreender esse sentimento. No entanto, uma compreensão completa desses conceitos requer uma abordagem holística.

Compersão

Ao considerar o compromisso, é necessário contemplar a comunicação, a honestidade e o equilíbrio de poder. Questionar o poder envolve analisar as estruturas sociais, identidades e normas, e examinar noções como consentimento, autonomia, misoginia, raça, capacitismo e gênero, entre outros aspectos.

Em um nível mais pessoal, é importante refletir sobre expectativas e limites em um relacionamento romântico. Por que desejamos um relacionamento e quais são nossas motivações? Estamos presos a estereótipos sociais ou considerando nossas peculiaridades individuais? Somos excessivamente dependentes dos outros? Identificar as causas da insegurança e desenvolver mecanismos para controlá-la é essencial. Além disso, é importante refletir sobre o tipo de apoio e validação que buscamos em um parceiro.

A reflexão pode não eliminar completamente o ciúme, pois ele muitas vezes surge de apego irracional e dependência emocional, mas é possível atenuar suas manifestações mais prejudiciais por meio da gestão emocional. Nesse sentido, lidar com a vulnerabilidade é semelhante a enfrentar o medo: o pensamento racional tem suas limitações. Por exemplo, mesmo sabendo que viajar de avião é seguro, alguém que tem medo de voar pode continuar sentindo medo. Esse medo não é facilmente superado pelo raciocínio lógico. No entanto, com o tempo, a pessoa pode reduzir esse medo por meio de técnicas como exposição gradual a vôos, respiração profunda para acalmar a ansiedade e buscando apoio de pessoas tranquilizadoras.

Abordar a vulnerabilidade pode seguir um caminho semelhante.

Considere um casal que decide explorar a não-monogamia. Assim como um viajante assustado, eles podem enfrentar sua vulnerabilidade. Podem se expor gradualmente a situações que despertam ciúme, buscando fortalecer sua resiliência e praticar uma comunicação efetiva. É importante que conversem honestamente sobre sua nova dinâmica romântica para que ela pareça menos ameaçadora, pois o ciúme, assim como o medo, prospera na incerteza. Além disso, eles podem observar como certos padrões de pensamento, como “e se ela nunca mais voltar?”, dominam sua mente e direcionar seu foco para encontrar tranquilidade. Buscar o apoio de uma comunidade solidária, conversar com amigos, reservar tempo para conversas regulares, reorganizar o espaço pessoal e praticar rituais de afirmação e amor são estratégias úteis. Essas práticas são baseadas em abordagens como a terapia cognitivo-comportamental.

Deseje o bem-estar daqueles que você ama

Além do controle do ciúme, outro aspecto importante para cultivar a Compersão é se preocupar com o desenvolvimento dos outros. É fundamental deixar de se concentrar excessivamente nas ameaças pessoais e, em vez disso, valorizar ativamente o crescimento e o bem-estar das outras pessoas. Para isso, os indivíduos podem redirecionar sua atenção e perguntar-se: o que essa experiência significa para o parceiro e para a outra pessoa envolvida?

Além disso, é necessário refletir cuidadosamente sobre quando e por que consideramos os outros como rivais. Essa tendência de ver os outros dessa forma e enxergar as interações sociais como competitivas é resultado das normas e ideais predominantes sobre relacionamentos e romance, que raramente retratam formas não exclusivas de afeto e preocupação. Podemos combater essa resposta instintiva evitando presumir que uma terceira pessoa é má ou ameaçadora apenas por sua presença. Uma maneira de fazer isso é cultivar uma apreciação mais rica pelas outras pessoas, indo além das avaliações rápidas e estereotipadas. Aprecie seus interesses, personalidade, história única e perspectiva. Isso pode dissolver preconceitos.

A capacidade de pensar com empatia faz parte da mudança imaginativa necessária para cultivar a Compersão. Portanto, devemos nos treinar a desejar o bem-estar daqueles que amamos, independente de sermos a fonte desse bem-estar ou não.

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