Muitos, mesmo dentro da não-monogamia, não sabem o que é compersão, um termo que surgiu nos anos 90 na comunidade Kerista em São Francisco. O conceito tem implicações profundas para compreender e navegar em relacionamentos não-monogâmicos. Embora a comunidade não exista mais, a introdução do conceito de compersão deixou um impacto duradouro, representando uma mudança de mentalidade de possessividade e ciúme para empatia, apoio e alegria.

O que é Compersão

Quando uma pessoa sente compersão, ela genuinamente experimenta felicidade e prazer quando seu parceiro romântico encontra realização e prazer em conexões afetivo-sexuais com outras pessoas.

A compersão transcende o egocentrismo, permitindo que sintamos um prazer genuíno pelas experiências positivas de outra pessoa, mesmo que elas não tenham nada a ver conosco. Ela contrasta com emoções negativas como ciúme e possessividade, que se originam de um senso de propriedade ou de direito. É importante lembrar, porém, que um sentimento não anula o outro e é possível sentir compersão e ciúme ao mesmo tempo.

Para vivenciar a compersão, é fundamental ver e entender os outros como indivíduos com autonomia e agência próprias. Isso envolve reconhecer que cada pessoa tem seu próprio caminho para a realização e alegrias. Quando comemoramos genuinamente os sucessos e a felicidade dos outros, afirmamos seu valor intrínseco e validamos suas escolhas e experiências.

Embora as pessoas experimentem essa alegria empática em situações cotidianas que não envolvam nossa vida romântica, o conceito de Compersão torna-se mais desafiador, porque se aplica ao contexto afetivo-sexual. Isso levanta a questão: é possível sentir felicidade por nosso parceiro romântico quando ele encontra alegria em um relacionamento romântico com outra pessoa? Essa situação introduz complexidades e obstáculos emocionais que podem desencadear sentimentos de ciúme, possessividade ou insegurança.

Para alcançar a compersão nos relacionamentos românticos, é necessário refletir sobre si mesmo e estar comprometido a questionar as normas sociais e os padrões arraigados de possessividade e ciúme. Ao praticar empatia, compreensão e amor incondicional, torna-se possível celebrar a felicidade e a realização dos parceiros românticos, mesmo quando isso envolve conexões com outras pessoas.

Quando experimentamos esse sentimento, demonstramos verdadeiro apoio ao caminho escolhido pelo nosso afeto para buscar a felicidade e realização. Isso cria um ambiente no qual os indivíduos se sentem encorajados a expressar suas emoções de forma autêntica, sabendo que têm o apoio e a compreensão uns dos outros. Essa união fortalece o relacionamento, permitindo que ambos sigam seus objetivos compartilhados sem fundirem-se.

Ao demonstrar generosidade e amor por meio da compersão, geramos um ciclo positivo de feedback emocional: ao celebrar  a felicidade dos outros, é mais provável que eles retribuam esses sentimentos positivos e nos apoiem em nossas próprias buscas.

Além disso, a compersão desafia a mononormatividade, a crença de que relacionamentos afetivo-sexuais só são considerados normais e saudáveis dentro da monogamia. Ao praticar a Compersão, questionamos essa noção, abrindo espaço para explorar diferentes dinâmicas de relacionamento e rejeitar a ideia de que o ciúme é a única resposta válida à intimidade fora de um casal exclusivo. Isso contribui para a quebra das normas sociais que limitam as possibilidades de relacionamento e promove uma perspectiva mais inclusiva sobre o amor.

5 Aspectos importantes para cultivar a Compersão

Valores Pessoais e Mentalidade

Se você acredita que o amor não é uma fonte finita e que as pessoas podem amar e se conectar com várias pessoas ao mesmo tempo, já está no caminho certo. Cultive a comunicação aberta, confiança e respeito mútuo. Tenha conversas honestas sobre desejos, limites e expectativas. Veja a sexualidade como uma parte natural e fluida da experiência humana, sem julgamentos ou vergonha.

Enxergue o ciúme como uma emoção normal que pode surgir quando nos sentimos ameaçados ou inseguros em um relacionamento. No entanto, encare-o como uma oportunidade de autoavaliação e crescimento.

Quando o ciúme surgir, dialogue abertamente com seu parceiro, discuta as emoções e inseguranças que desencadearam esses sentimentos. Juntos, vocês podem lidar com essas inseguranças, oferecendo apoio e compreensão mútua.

Autoconfiança e Autocuidado

A autoconfiança desempenha um papel fundamental. Quando você confia em si mesmo, em suas habilidades e em seu valor, fica mais fácil celebrar as conquistas e alegrias dos outros sem se sentir ameaçado.

Para cultivar essa segurança, é essencial cuidar de si física, mental e emocionalmente. Isso permite que você mantenha seu bem-estar e estabilidade, estando melhor preparado para compartilhar alegrias com seus parceiros quando eles alcançarem marcos significativos em suas vidas, sem permitir que o ciúme e as inseguranças atrapalhem a celebração.

Por outro lado, se você negligenciar o autocuidado, pode se tornar mais propenso a sentir emoções negativas, como inveja, ciúme ou comparação.

Ao priorizar o autocuidado e nutrir sua segurança interior, você constrói uma base sólida dentro de si mesmo. Essa base não só contribui para seu próprio bem-estar, mas também permite que você celebre e apoie autenticamente a felicidade e as conquistas dos outros, sem ser consumido por emoções negativas, promovendo conexões mais saudáveis e satisfatórias com as pessoas ao seu redor.

Segurança dentro do relacionamento

Ter segurança em um relacionamento é essencial. Isso envolve sentir-se à vontade para se expressar autenticamente, sem medo de julgamentos, confiando que suas necessidades serão consideradas e seus limites serão respeitados. É importante conversarem sobre expectativas e chegar a um consenso.

Vocês podem aumentar a segurança no relacionamento apoiando-se emocionalmente mutuamente e fazendo check-ins regulares para reafirmar sentimentos e alinhar expectativas sobre a relação. Olhem para seus metamores com uma perspectiva positiva, percebendo que também se beneficiam disso.

Veja seus Metamores com bons olhos, afinal, você também ganha com isso

Reduza o sentimento de ameaça ou competição, adotando uma visão mais empática. Em vez de verem seus metamores como adversários, considerem-nos como adições valiosas ao ecossistema do relacionamento. Vocês não precisam ser os únicos responsáveis por todas as necessidades emocionais, sociais e sexuais de seu afeto. Os metamores podem aliviar essa pressão.

Claro, isso exige uma mudança de perspectiva: entender que as outras pessoas com quem seu afeto se envolve possuem qualidades e características próprias. O fato de estarem envolvidas com a pessoa que vocês amam não diminui o valor nem a importância do relacionamento que vocês compartilham.

Ao invés de focarem na competição por atenção ou recursos, vocês podem desenvolver uma abordagem colaborativa, em que todos os envolvidos se apoiem mutuamente e valorizem as conexões que têm. Ao adotar essa mentalidade de aceitação, vocês promovem um espaço de amor e conexão mais amplo, onde todos os relacionamentos podem florescer e se fortalecer. Afinal, se os outros relacionamentos de seu dengo contribuem para o seu crescimento e desenvolvimento pessoal, por que ver isso como algo negativo?

Faça parte de uma comunidade solidária

Ao se engajar ativamente em uma comunidade que reconhece e valida relacionamentos não monogâmicos, você pode encontrar apoio e recursos para compreender a compersão. Essa comunidade pode oferecer um espaço para compartilhar experiências, aprender, encontrar modelos inspiradores e até buscar orientação psicológica.

Cercar-se de pessoas que compartilham visões de relacionamento semelhantes e entendem os princípios e desafios da não monogamia pode gerar uma sensação de pertencimento. Discutir abertamente e compartilhar experiências com indivíduos que pensam da mesma forma pode ajudar a normalizar e validar as emoções e a dinâmica associadas à compersão.

Busque ativamente livros, artigos, podcasts ou páginas que exploram e retratam relacionamentos não monogâmicos, aqui você pode conferir algumas delas. Essas fontes fornecem recursos educacionais e narrativas que se conectam às suas próprias vivências. A exposição a diversas perspectivas e histórias pode validar seus próprios sentimentos.

Além disso, busque terapia com profissionais que possuam conhecimento sobre a não monogamia. Eles podem oferecer orientação e apoio terapêutico adaptados à dinâmica específica do seu relacionamento. Através da terapia, você poderá enfrentar desafios, explorar o crescimento pessoal e obter ferramentas para cultivar a compersão em seus relacionamentos.

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