Em Estocolmo, no início dos anos 2000, a Anarquia Relacional nasceu de um ambiente que incluía e celebrava uma série de contracultura; tais como o Poliamor, o fetichismo, a arte interativa, o ativismo tecnológico, política anarquista e jogos de RPG.

Nós, as pessoas que nos reunimos dentro deste ambiente contracultural, tínhamos teorias e experiências de vida que nos provaram que o amor podia ser sentido por mais de uma pessoa de cada vez e que as normas sociais acerca dos relacionamentos acabavam policiando isso, criando uma espécie de gaiola em torno de relações baseadas no amor.

O Poliamor parecia ser a própria chave que abriria a porta dessa gaiola – mas logo descobrimos que este movimento também aprisionava o amor, só que em uma gaiola com espaço para mais de duas pessoas. As regras às vezes pareciam ainda mais rígidas dentro das relações poliamorosas, onde o amor era algo especial, mas também perigoso. Aqueles que entravam na gaiola por livre e espontânea vontade estavam sujeitos ao controle uns dos outros. Nossos espíritos anarquistas não tolerariam tal gaiola ou desejariam colocar qualquer outra pessoa, especialmente aquelas que amamos, nela.

A Anarquia Relacional é a ideia de que o amor não precisa de um conjunto específico de regras, todos os nossos relacionamentos são valiosos e podem ser construídos e moldados por pessoas que querem se envolver neles com base no livre arbítrio e um desejo radical de evitar definir relacionamentos tentando exercer poder uns sobre os outros. Simultaneamente, estávamos descartando noções estáticas de gênero – o que significava jogar fora qualquer modelo de relacionamento construído sobre ideias obsoletas de gênero e sexualidade. Quando não podemos ou queremos definir o que constitui amor ou atração sexual em um mundo onde todas essas noções estão irreversivelmente ligadas ao sexo e ao gênero, usá-las como base para definir as relações parecia fútil.

Livre-se de tudo isso! Queríamos a anarquia, e dizer:

Que se fodam todas as relações de ordem e poder decorrentes destas raízes!

A Anarquia Relacional se tornou meu caminho pessoal para a liberdade de todas as normas rígidas e estruturas de poder que encontrei no amor normativo e nos papéis de gênero. Ela ressoou, em sua diferença do poliamor, com pessoas suficientes para continuar evoluindo, ganhar vida própria e na Suécia; tornou-se uma vertente estabelecida dos movimentos queer e poli – levada adiante por pessoas que procuram uma ruptura radical com as normas sufocantes e um modelo queer o suficiente para acomodar elas e seus relacionamentos.

Sempre soubemos que seria mais trabalhoso ter relações assim – definidas por nós mesmos em parceria com aqueles que estão nelas conosco, em vez de cair de novo na norma. Hoje vejo também a importância de reconhecer a dinâmica de poder dentro das relações anárquicas e me esforçar para estar ciente de relações que começam com dinâmicas de poder. O custo de fazer um acordo de relacionamento totalmente personalizado pode parecer muito diferente para pessoas diferentes e a tirania da “ausência de estrutura” deve ser considerada – onde muito pouca estrutura pode se transformar em poder e benefício para aqueles que já os possuem. A Anarquia Relacional deve estar equipada com essa análise de poder e estar aberta a assinalar a estrutura dos relacionamentos quando for necessário proteger os indivíduos uns dos outros.

Essa é uma tradução e adaptação do texto original de Andie Nordgren.

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