A justificativa batida de que “se esse é o combinado deles, então tá tudo bem” é um tanto perigosa. Nem sempre tá tudo bem. Muitos acordos, tanto na monogamia quanto na não-monogamia não são feitos de forma autêntica, por livre e espontânea vontade. Uma pessoa pode consentir porque aceita/tolera algo ou por medo de retaliações. Consentimento não significa desejo. Dizer “pode ser” ou “eu quero” não é a mesma coisa.
A fidelidade, dentro da monogamia, é o maior exemplo disso. As pessoas juram umas pras outras que serão fiéis simplesmente porque é um pré-requisito, e porque elas esperam fidelidade em troca, não porque elas realmente querem e serão fiéis. A taxa de traição tá aí pra provar isso. E dentro da não-monogamia muitas vezes não é diferente: quantas mulheres se privam de explorar plenamente sua própria sexualidade enquanto seus parceiros estão totalmente livres pra isso? Quantas mulheres transam pra satisfazer o homem em vez de se satisfazer?
Consentimento tem a ver com permissão, não necessariamente com vontade. Nem sempre as pessoas dão consentimento porque desejam algo, e sim porque têm medo das consequências caso elas não aceitem o que foi proposto.
Pense nisso quando for propor um acordo, por exemplo. A outra pessoa está aceitando porque ela quer – porque faz sentido pra ela – ou porque, sei lá, ela acha que só assim ela vai conseguir manter a relação e por isso tem medo de recusar? É por desejo ou por medo? Ta realmente “tudo bem”?
Aliás, pense nisso sempre que uma pessoa consentir. Ela tá fazendo porque realmente quer ou por qualquer outro motivo? Acredite, tem pessoas que passam a vida inteira dando consentimento para todo tipo de coisas que elas não querem.