O termo responsabilidade afetiva virou tendência nos últimos anos. Todo mundo fala sobre isso quando o assunto é relacionamento romântico: ser transparente quanto às suas intenções, agir com sinceridade, ter cuidado com os sentimentos alheios e como suas ações podem afetar o outro. As pessoas jogam a carta do Pequeno Principe no meio pra justificar o argumento.

Responsabilidade Emocional é um princípio criado por Albert Ellis, fundador da Terapia Racional Emotiva Comportamental e um dos precursores das terapias cognitivas. Em termos simples, esse princípio é o de que nós (e não os outros) somos os principais responsáveis pelas nossas emoções. Reconhecemos que as outras pessoas podem nos tratar mal, mas nós é que criamos nossa perturbação emocional mantendo demandas irrealistas e absolutistas em relação aos outros, ao mundo e a nós mesmos. Se assumirmos a responsabilidade por mudar essas duas ideias básicas, poderemos criar bem-estar emocional quando as coisas não forem como gostaríamos.

Emoções como raiva, depressão e vergonha são autodestrutivas e são o resultado de duas ideias fundamentais:

1. As outras pessoas e a vida devem ser como eu quero e é insuportável quando não é o caso. (Perturbação por desconforto)

2. Devo ter um bom ou ótimo desempenho e os traços e características que desejo ter e, quando não é o caso, sou inferior ou inútil como pessoa. (Perturbação do ego).

Basicamente, nós temos uma variedade de desejos, vontades e preferências, porém transformamos esses valores não absolutos em dogmas e exigências grandiosas e quando as coisas não correspondem às nossas expectativas, sentimos emoções negativas e jogamos a culpa no outro.

Outras pessoas podem agir mal se assim o desejarem e podem criar uma situação estressante ou negativa, elas não são isentas de responsabilidade por suas ações. No entanto, cada um de nós é responsável pelo nível de sofrimento emocional que resulta do comportamento dos outros.

A responsabilidade emocional é um remédio para um padrão de comportamento que atormenta tantos relacionamentos interpessoais, o da projeção emocional: acreditar que o outro é responsável pelos nossos sentimentos de ciúmes, insegurança, tristeza, raiva, solidão e por aí vai ou, alternativamente, que somos responsáveis por como os outros se sentem.

Os comportamentos que normalmente emergem da projeção emocional incluem culpa, intimidação, controle, exigência, apego doentio, dependência doentia, esforço excessivo para agradar, culpa e autocensura, tudo que faz parte da monogamia e não deveria, de jeito nenhum, fazer parte da não-monogamia.

Em vez de dizer: “Você me deixa infeliz”, a coisa emocionalmente responsável a se dizer é: “Sinto-me infeliz como resultado desta situação.”

Jogar a responsabilidade dos seus próprios sentimentos nos outros não é saudável, é desempoderador e pode criar dependência emocional: significa que o poder de nos fazer bem ou mal está nos outros e não em nós mesmos. Dependência emocional é o oposto de assumir responsabilidade pelo nosso bem-estar emocional.

Praticar responsabilidade emocional não significa ser ultra individualista e não se importar com os sentimentos dos outros. Significa que, apesar de ligarmos pro bem-estar alheio e querermos fazer coisas que deixem os outros bem, não assumirmos como nossa obrigação deixar os outros bem o tempo todo, às custas das nossas próprias necessidades. Significa entendermos como situações nos impactam e sermos transparentes com o outro sobre o que precisamos e como gostaríamos de ser tratados sem, no entanto, delegar nosso bem-estar aos outros, achar que eles é quem devem nos fazer felizes e atender as nossas necessidades antes das deles, que tudo é culpa dos outros. É entendermos que nem tudo que os outros sentem é algo que podemos mudar. Eles têm a agência para atender às suas próprias necessidades e não temos culpa por cada coisa que eles sentem. Mas podemos ajudar sempre que formos capazes.

Um mundo em que todos assumissem a responsabilidade pelo próprio bem-estar emocional em vez de projetar tudo nos outros seria mais aberto ao amor e menos sujeito ao rancor. Muita da nossa energia é gasta em culpar os outros por nossa própria infelicidade — com resultados escassos, já que a maioria das pessoas não reage bem à culpa. Por outro lado, muito poucas pessoas se recusam a oferecer sua contribuição para a nossa felicidade, se não se sentirem forçadas, manipuladas ou chantageadas emocionalmente para isso. Adotar a responsabilidade emocional é muito mais eficaz do que culpar os outros, pois estimula amigos e amantes a nos ajudar e apoiar pelo puro prazer de fazer isso e não por culpa.

Às vezes, podemos chegar à conclusão de que nossos amigos ou amantes atuais simplesmente não podem fornecer o tipo de apoio ou afeto de que precisamos. Nesse caso, há uma coisa linda que podemos fazer: agradecê-los pelo que fizeram até agora e procurar alguém mais em harmonia com nossas necessidades atuais — em vez de culpá-los por não serem do jeito que gostaríamos que fossem ou tentarmos moldá-los de acordo com nossas expectativas!

Em suma, ser responsável emocionalmente é um ato de poder, autonomia e independência. É uma mudança fundamental de perspectiva que é uma das bases para qualquer forma de relacionamento harmoniosa, sólida e gratificante. A responsabilidade emocional nos torna os autores do nosso próprio destino e nos permite nos conectarmos livremente com outros seres humanos igualmente autônomos em relações em que não existe o jogo da culpa.

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