A galera acha que não-monogamia é só ter vários parceiros, confunde com o significado de poligamia ou mistura tudo e bota tudo na mesma categoria. Neste post, vou explicar o que é poligamia e como ela se diferencia da não-monogamia. É importante desmistificar esses conceitos equivocados e entender que as duas práticas são distintas. Então, vamos lá:
Definições de poligamia e não-monogamia
Antes de aprofundar nas diferenças entre poligamia e não-monogamia, é importante sacar o significado de cada termo, manja? Poligamia é um modelo de casamento em que uma pessoa tem mais de um marido ou esposa ao mesmo tempo, mas esses outros parceiros não podem se relacionar com ninguém além desta pessoa, tá ligado?
A não-monogamia é um termo geral que abrange diferentes tipos de relacionamentos que rompem com a norma monogâmica. Nessa vibe, as pessoas são livres para se envolverem com outras pessoas sem a expectativa de fidelidade. Mas não-monogamia não é sobre quantidade!
O Que é Poligamia
Poligamia é um termo que se refere a ter múltiplos cônjuges (White & White, 2005). Ela é dividida em duas categorias: poliginia, quando um homem tem várias esposas, e poliandria, quando uma mulher tem vários maridos (White & White, 2005). Neste texto, falarei apenas de poliginia para não ficar muito longo. A poligamia tem sido praticada em muitas partes do mundo, incluindo a África, China e até mesmo os EUA.
Poligamia ao Redor do Mundo
Nos Estados Unidos, a poligamia é associada à religião mórmon.
Em 1839, os mórmons começaram a praticá-la abertamente quando se mudaram para Nauvoo, Illinois (Altman & Ginat, 1996). A partir de 1843, a poligamia tornou-se parte da religião mórmon quando Joseph Smith, seu fundador, escreveu a “Revelação sobre o Casamento Celestial“. Segundo essa revelação, a poligamia é um princípio sagrado da fé (Kincaid, 2003). Smith argumentou que a poligamia era praticada pelos patriarcas do Antigo Testamento e que um homem virtuoso deveria ter muitos filhos para alcançar um status divino. De acordo com Altman e Ginat (1996), a revelação de Smith incentivou os homens a se casarem com muitas mulheres e terem muitos filhos em busca de recompensas divinas. Assim, a poligamia tornou-se uma prática incorporada pelos mórmons.
A poligamia era praticada na China antiga. No século XV e XVI, o Confucionismo afirmava que era legal (Tracy, 2002). Nesse período da história chinesa, morrer sem deixar um herdeiro era considerado um pecado mortal. A poligamia oferecia uma solução para esse problema, já que um homem poderia casar-se com várias esposas e, se a primeira morresse, ele poderia substituí-la por outra. Atualmente, no entanto, a poligamia é ilegal na China.
Na África Oriental, a poligamia ainda é praticada em comunidades agrícolas, já que ter muitas esposas é considerado um símbolo de status social e pode resultar em mais filhos que ajudarão com o trabalho. No Vietnã, durante a Guerra do Vietnã, muitos homens morreram, o que dificultou para as mulheres mais velhas encontrar um marido (Tracy, 2002). Essas mulheres optaram por casamentos poligâmicos para terem filhos, e a prática persiste até hoje, apesar de ser proibida por lei há mais de meio século.
Na cultura islâmica, um homem pode ter até quatro esposas, desde que as trate igualmente em termos de direitos e herança (Ali, 2003). A principal condição para casamentos poligâmicos nas culturas islâmicas é a igualdade entre as esposas. Se um homem não conseguir tratar cada esposa igualmente, então só poderá ter uma esposa..
Como a Poligamia funciona na prática?
Em algumas culturas, após escolher uma esposa, o homem precisa obter a aprovação do profeta de um grupo fundamentalista, dos pais da potencial esposa e das esposas atuais (Altman & Ginat, 1996). Geralmente, homens com alto status econômico tendem a ter mais de uma esposa, pois precisam pagar um dote para a família da esposa em potencial (Altman & Ginat, 1996).
Quando uma nova esposa é escolhida e aprovada, é realizada uma cerimônia de casamento, que pode envolver as outras esposas, dependendo da cultura (Altman & Ginat, 1996). A adaptação da nova esposa à convivência com o marido e as outras esposas pode ser difícil no início, especialmente se elas morarem juntas na mesma casa. É comum surgir ciúme entre as esposas, mas com o tempo a família se adapta e o marido desenvolve um sistema de revezamento para passar tempo com suas esposas e filhos..
Poligamia e Não Monogamia Não São a Mesma Coisa
A poligamia geralmente está ligada a alguma religião patriarcal. Nela, uma pessoa pode se casar com várias pessoas, mas essas pessoas devem ter exclusividade em relação a ela, assim como na monogamia. Atualmente, a poligamia é mais comum na Ásia, Oriente Médio e África, onde os costumes religiosos limitam o acesso das mulheres a vários parceiros masculinos e toleram o acesso de certos homens a várias esposas. Em alguns casos, as mulheres são impedidas de ter acesso ao espaço público ou de dirigir, o que dificulta a ida à escola ou conseguir trabalho que permita liberdade pessoal e controle sobre suas próprias vidas. Frequentemente, os membros da família organizam os casamentos das mulheres em negociação com o futuro marido e/ou com a família dele.
A Não-monogamia não se define por meio de múltiplos relacionamentos, embora possa permiti-los. É um ato político que desafia o sistema monogâmico e valoriza a autonomia e a construção de relacionamentos mais livres, éticos e não hierárquicos. Na não-monogamia, não reconhecemos o direito de restringir a sexualidade e a liberdade uns dos outros. Em vez disso, buscamos acabar com todas as formas de opressão nos relacionamentos. É uma perspectiva crítica do sistema hegemônico que favorece o casal e, ao mesmo tempo, normaliza o pensamento de que um é o dono do outro. Na não-monogamia, a autonomia é um valor inegociável
Por fim, a bigamia é ilegal no Brasil e em muitos outros países. Este post foi criado para ajudar pessoas monogâmicas que não conhecem os termos corretos e para aqueles que têm dúvidas sobre não-monogamia e poligamia.
Espero que o post tenha sido útil!