O Manifesto da Anarquia Relacional foi publicado por Andie Nordgren em 2006 e contém os principais fundamentos da sua filosofia de relacionamento:
O amor é abundante e cada relação é única
A Anarquia Relacional problematiza a ideia de que o amor é um recurso limitado que somente é validado a partir de um casal. Temos a capacidade de amar mais de uma pessoa, e uma relação e o amor envolvido nela não diminui o amor por outras. Não hierarquize e compare pessoas e relações – valorize os indivíduos e as conexões. Não é necessário classificar uma pessoa como principal em sua vida para que a relação seja válida. Cada relacionamento é independente e uma relação entre indivíduos autônomos.
Amor E respeito ao invés de direitos
Decidir não basear uma relação a partir de uma ideia de direitos é sobre respeitar a independência e autonomia alheia. Seus sentimentos ou história com uma pessoa não lhe conferem o direito de comandar e controlar sua parceria a realizar aquilo que é considerado normal em uma relação. Explore como se envolver sem passar por cima de limites e crenças pessoais. Ao invés de buscar sempre concessões, deixe que as pessoas amadas escolham caminhos que mantenham sua integridade intacta, sem que isso signifique uma crise para as relações. Se manter distante de direitos e obrigações é a única maneira de ter certeza que se está em uma relação verdadeiramente mútua. O amor não é mais “real” quando pessoas se comprometem umas com as outras por isso ser parte do esperado socialmente.
Encontre seu conjunto de princípios relacionais
Como você deseja que as outras pessoas lhe tratem? Quais são seus limites pessoais e expectativas para as relações? Que tipo de pessoa você gostaria de compartilhar a vida e como você deseja que suas relações se organizem? Encontre seu conjunto de princípios relacionais e os aplique para todas as relações. Não crie regras especiais e exceções como uma forma de marcar que o seu amor por alguém é “de verdade”.
O heterossexismo é feroz lá fora, mas não deixe que o medo lhe domine
Se lembre que existe um sistema dominante normativo muito poderoso que define o que o amor verdadeiro é e como as pessoas devem viver. Muitas pessoas irão questionar você e a validade das suas relações quando você não segue as normas. Trabalhe em conjunto com as pessoas que você ama para encontrar caminhos possíveis e burlar o pior das normas problemáticas. Encontre maneiras de se opor e não permita que o medo guie suas relações.
Se prepare para a beleza do inesperado
Ser livre para ser uma pessoa espontânea – poder se expressar verdadeiramente sem medo de punições ou uma noção de “obrigações” sobrecarregada – é o que dá vida a relacionamentos orientados pela Anarquia Relacional. Se organize a partir do desejo de conhecer e explorar uns aos outros – não em deveres, obrigações e se frustrando quando elas não são realizadas.
“Finja até você conseguir”
Às vezes pode parecer que você precisa ser um super-humano para conseguir lidar com a posição contra-hegemônica envolvida em escolher relações que não se orientam pela norma. Uma ótima dica é a estratégia de “fingir até você conseguir” – quando você estiver se sentindo forte e encorajado, pense em como você gostaria de se ver agir. Transforme isso em direcionamentos e se baseie neles quando as coisas estiverem mais difíceis. Converse e busque suporte com outras pessoas que desafiam as normas e nunca se censure quando a norma lhe pressiona a agir de maneiras que você não gostaria.
Confiar é melhor
Escolher assumir que sua parceria não lhe deseja mal lhe leva a um caminho muito mais positivo do que uma aproximação desconfiada onde você precisa ser de constante validação por outras pessoas para acreditar que elas estão realmente com você nas relações. Às vezes as pessoas têm tantas coisas acontecendo dentro de si mesmas que não há energia para se aproximar e cuidar de outras. Crie relações em que os momentos de afastamento são apoiados e rapidamente perdoados, e dê às pessoas diversas oportunidades para falar, se explicar e de ser responsáveis nas relações. Se lembre de seus princípios relacionais e também cuide de si!
Mudanças através da comunicação
Para a maioria das atividades humanas existe alguma forma de norma para como elas devem acontecer. Se você deseja divergir desse caminho você precisa se comunicar – caso contrário as coisas tendem a se adequar novamente a norma. Comunicação e ações conjuntas são a única maneira de se romper com isso. Relacionamentos radicais precisam ter o diálogo e a comunicação como centrais – não como algo de emergência usado apenas para resolver problemas. Comunicação em um contexto de confiança. Estamos tão acostumades as pessoas não dizerem realmente o que pensam e sentem – que nós temos que ler nas entrelinhas para entender os reais significados. Mas essas interpretações só podem ser construídas a partir de relações anteriores – geralmente baseadas na norma que desejamos escapar. Perguntem uns aos outros sobre as coisas e sejam explícitos!
Construa artesanalmente seus compromissos
A vida não teria muita forma e significado sem nos unirmos coletivamente para conseguir as coisas – construir uma vida juntes, criar as crianças, ter uma casa ou crescer junto apesar dos pesares. Tais esforços geralmente requerem muita confiança e comprometimento entre as pessoas para funcionar. A Anarquia Relacional não é sobre nunca se comprometer com algo – é sobre construir artesanalmente seus próprios compromissos com as pessoas a seu redor e as emancipar das normas que ditam que certos compromissos são necessários para que o amor seja real, ou que alguns compromissos como criar as crianças ou coabitar precisam ser direcionados por sentimentos específicos. Comece do zero e seja explícito sobre quais compromissos você deseja fazer com as outras pessoas
NORDGREN, Andie.The short instructional manifesto for relationship anarchy. Tradução de Newton Jr. NM em Foco, 2021.