Praticar Anarquia Relacional significa compreender e aplicar a teoria e práticas anarquistas às nossas relações interpessoais. Muitas pessoas usam a palavra Anarquia no sentido coloquial – um caos, onde tudo é permitido: violência, assassinatos, a galera fazendo o que der na mente!  Não, não é esse o caso. Anarquia tem a ver com eliminar e desconstruir hierarquias. Praticar o anarquismo em nossas relações significa identificar todo tipo de dinâmicas de poder, cultivar a autonomia e minimizar a coerção. 

Anarquistas acreditam que toda e qualquer hierarquia é danosa. Não existe uma hierarquia ética, toda hierarquia deve ser eliminada e desconstruída. A Anarquia Relacional visa desenvolver pessoas que são capazes de determinar o que é melhor pra elas. O problema é que vivemos numa sociedade extremamente hierárquica e não podemos simplesmente optar por sair dela. O Capitalismo e a Anarquia não podem coexistir porque o Capitalismo cria hierarquias e só pode existir hierarquicamente. Hierarquia, por sua vez, cria coerção e a coerção obriga as pessoas a fazerem coisas que não querem necessariamente fazer ou que podem não ser o melhor pra elas.  

Eu sei que as pessoas entendem “fazer o que for melhor pra si” como algo mega individualista, tipo “vou fazer o que eu quiser e foda-se!”, mas juro que não é sobre isso. O legal da Anarquia é que existe este tipo de entendimento de que o individual e o coletivo estão interligados. Existimos no ciclo de feedback do individual e da comunidade. Um não pode existir sem o outro. Não podemos prosperar na solidão e tampouco nos fundindo uns com os outros. 

Precisamos desenvolver a autonomia e nutrir as pessoas ao nosso redor ao mesmo tempo. A autonomia é cultivada através da confiança e da segurança porque só quando você sente que tem múltiplas opções que são boas, seguras e desejáveis é que você pode então fazer uma escolha entre essas opções. Se houver uma força coercitiva pressionando você a fazer uma determinada escolha ou agir de uma forma específica, sua autonomia está sendo limitada. 

Eliminar a coerção significa que suas ações não têm consequências? Claro que não! Você deve manter a autonomia dentro de seus relacionamentos para que você e as pessoas com as quais você se relaciona possam ser elas mesmas e sejam capazes de participar dessas relações de forma autêntica. 

Isso soa muito utópico porque estamos inseridos em um mundo em que as relações vêm com uma certa quantidade de expectativas, responsabilidades e obrigações. Um mundo no qual se relacionar da forma que você quer desencadeia  sentimentos de insegurança e medo. Acreditamos que a segurança e a liberdade são opostas e que escolher uma significa renunciar a outra. Isso acabou se tornando a norma; mas não precisa ser assim.  
 

A intenção é eliminar toda hierarquia, estar sempre trabalhando para isso, sempre tentando encontrar o melhor caminho para chegar lá. Entretanto, não existe um destino final. Em nenhum momento diremos “Ok! Conseguimos!! Alcançamos a anarquia, valeuuu!!! Vamos tomar umas pra comemorar!!!!  

Não é assim que funciona. Sempre surgirão novas hierarquias que precisarão ser desconstruídas. A Anarquia é uma prática, um movimento contínuo.  Ela não é rígida ou focada em um resultado; é um modo de vida, uma filosofia através da qual escolhemos fazer as coisas para melhorar a nós mesmos e a todos ao nosso redor.  

O objetivo da Anarquia é fazer bem para sua saúde

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